"My plane leaves tomorrow." Subindo com o fumo do meu cigarro, a ideia é lançada para o ar e esfuma-se logo de seguida, dissipada pelo desinteresse abstraído no olhar dela. "I said... my plane leaves tomorrow, baby." Era sempre assim. O meu dramatismo crescente, ela afastava como ao olhar, e a tensão que eu provocava ela descarregava desfiando os problemas até deles não se ver mais ténues linhas arruinadas.
Ela era assim. Pegava-me pela mão para dançar. Mexia-se e encantava-me como uma serpente mexendo-se encanta o tocador de flauta. E eu, solto em gestos desconexos, preso num colete preto por cima de uma camisa encarnada como o vestido dela, seguia-a como podia, enganava-me enquanto me mantinha no encalço do seu ziguezague abrupto. E eu, sem largar o meu cigarro, abria os braços para tocá-la, sentia o espaço a mover-se à minha volta e ela sempre parada na minha referência interna, no meu olhar fixado, nos meus gestos de cópia. Mas ninguém a imita, ninguém consegue nem ousaria tanto.
Eram assim todas as noites. Parávamos apenas para beber, para fumar, para alimentar o que em nós secava a vida e rodopiava o tempo, numa espiral que engolia os tornados que fomos enquanto dançávamos. As noites passavam e esgotavam-se assim. Eu e ela, no meio de tantos outros corpos que se moviam, mas nenhum como o dela. As noites passavam, os dias enterravam-se dormindo, esperando pela noite. Não vim aqui para isto. Não meti os pés neste país para esta agitação. E o meu visto de visitante já espirou há meses. Não sei como me mantenho aqui, noite após noite, neste país distante, sem alternativas, sem perspectivas de regresso. Nada disto está tão longe de uma vida, e no entanto nada me fez nunca sentir tão vivo.
"Baby, my plane leaves tomorrow." Todas as noites, a noite acaba da mesma maneira. Os dois numa cama, mais preenchidos do que ao pôr-do-sol, mas estranhamente menos exaustos. Realimentados de vida. Encharcados pelas sensações inebriantes de um quotidiano irreal. "But baby, it really does."
E todas as noites antes de adormecer, não sei se ainda acordado ou já a dormir, misturado com os zumbidos da música alta que me moveu toda a noite, pareço escutar uma voz tão carregada e negra como o longo cabelo dela a dizer "you are never going back home".
Ela era assim. Pegava-me pela mão para dançar. Mexia-se e encantava-me como uma serpente mexendo-se encanta o tocador de flauta. E eu, solto em gestos desconexos, preso num colete preto por cima de uma camisa encarnada como o vestido dela, seguia-a como podia, enganava-me enquanto me mantinha no encalço do seu ziguezague abrupto. E eu, sem largar o meu cigarro, abria os braços para tocá-la, sentia o espaço a mover-se à minha volta e ela sempre parada na minha referência interna, no meu olhar fixado, nos meus gestos de cópia. Mas ninguém a imita, ninguém consegue nem ousaria tanto.
Eram assim todas as noites. Parávamos apenas para beber, para fumar, para alimentar o que em nós secava a vida e rodopiava o tempo, numa espiral que engolia os tornados que fomos enquanto dançávamos. As noites passavam e esgotavam-se assim. Eu e ela, no meio de tantos outros corpos que se moviam, mas nenhum como o dela. As noites passavam, os dias enterravam-se dormindo, esperando pela noite. Não vim aqui para isto. Não meti os pés neste país para esta agitação. E o meu visto de visitante já espirou há meses. Não sei como me mantenho aqui, noite após noite, neste país distante, sem alternativas, sem perspectivas de regresso. Nada disto está tão longe de uma vida, e no entanto nada me fez nunca sentir tão vivo.
"Baby, my plane leaves tomorrow." Todas as noites, a noite acaba da mesma maneira. Os dois numa cama, mais preenchidos do que ao pôr-do-sol, mas estranhamente menos exaustos. Realimentados de vida. Encharcados pelas sensações inebriantes de um quotidiano irreal. "But baby, it really does."
E todas as noites antes de adormecer, não sei se ainda acordado ou já a dormir, misturado com os zumbidos da música alta que me moveu toda a noite, pareço escutar uma voz tão carregada e negra como o longo cabelo dela a dizer "you are never going back home".
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