quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fomos caminhando pelo frio cortante, divididos em dois pela distância provocada pelas palavras gélidas com que nos magoávamos. As relações são mesmo assim. Ou pelo menos disso nos convencemos para justificar os nossos próprios falhanços. Mas continuámos a caminhar, lado a lado, na mesma direcção e no mesmo sentido, mas com a mente em sítios diferentes. A minha mente estava na dela, a dela em qualquer lugar menos neste. Entrámos no jardim. Eram cinco e meia.

"Não vejo que sentido faz arrastares-me para aqui quando isto fecha daqui a meia hora."

Paguei o bilhete e agarrei-lhe na mão, precipitando-nos para o interior. A mão dela queimava como o gelo. É o Inverno que se anuncia. Por esta altura do ano, o Sol põe-se agora, e a penumbra que se acerca trazia a hora perfeita para o que lhe queria mostrar. Corremos, como em outros momentos em que as diferenças eram virtudes, e até o que nos separava nos parecia engraçado; antes da noite ter caído dentro de nós.

"Pára imediatamente. Isto é ridículo. Diz-me de uma vez o que me queres dizer, ou deixa-me ir embora."

Arrastei-a mais uns metros, no jardim como naqueles penosos dias de fim de relação, de palavras amargas, de ressentimentos e cobranças que nos parece que nunca vão existir. Achamos sempre que doçura alguma se transforma em tamanho sal, que a ternura jamais poderia abrir feridas. Até ao dia em que acontece, e já tudo nos parece fora do lugar. E aí temos que correr. Correr na direcção da pessoa que nos fez feliz. Ou correr para longe da pessoa que nos magoa. Ambas são a mesma.

"Vou-me embora. Isto está quase a fechar."

"Mas nós já chegámos. Esquece a Lua, esquece o vento e o frio, esquece-me a mim. Sente-te apenas aqui, rodeada de coisas que não consegues ver. Este é o meu sítio preferido na cidade. É tão bonito, cheio de cores, cheio de sons, e cheio de alegria. Mas tudo isso, tu não podes sentir a esta hora. Só te podes sentir como se estivesses num buraco ou num poço, mas na verdade à frente dos teus olhos está um dos lugares mais bonitos que poderias ver.

Sabes, de noite todas as árvores são negras. Esperemos pela madrugada."



1 comentário:

  1. "Esquece a Lua, esquece o vento e o frio, esquece-me a mim. Sente-te apenas aqui, rodeada de coisas que não consegues ver. Este é o meu sítio preferido na cidade."

    Onde nao existe nada e no entanto pode existir tudo o que tu quiseres.
    A Ilusão é uma forma de felicidade.

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